
Por João Maurício
O jornal Semana Alcobacense escrevia, na sua edição de 17 de Abril de 1910 - “Os povos de Benedita e Turquel, cada vez mais descontentes com a demora da divisão da Charneca, chegaram ao ponto de pedirem a desanexação deste concelho para o concelho de Rio Maior”.
É sabido que a atual freguesia da Benedita se formou de territórios que pertenciam aos concelhos já extintos de: Santa Catarina, Turquel, Alvorninha e, também, ao de Rio Maior.
Surgiu, como é lógico nestes casos, uma questão de limites, nomeadamente, a divisão dos terrenos baldios do Vale do Homem.
Casimiro Maria Felizardo, na página 3 do livro “Benedita, Quem Me Dera”, refere-se ao assunto: “Estes zaragateiros tinham os seus comandantes e um deles era o Joaquim Fernandes da Cabecinha”.
Silvestre Luís, na edição de dezembro de 1989, no Jornal de Turquel, refere-se também, a este tema: “Mas surgiu logo outro problema: a delimitação de estremas (ou fronteiras) entre estas freguesias. Por este motivo houve tensões, tumultos, ajuntamentos, zaragatas entre as populações: Santa Catarina, Benedita e Turquel… Realizaram-se diversas reuniões com o fim de resolver o diferendo amigavelmente. Em certa altura, os de Turquel chegaram a acordo amigável sobre a fronteira com a da Benedita.
Feito o acordo, tornaram-se aliados contra os de Santa Catarina e as tensões agravaram-se. Esta freguesia pertencia, como hoje, ao concelho das Caldas da Rainha.
José Luís Machado, no seu livro “História da Benedita” tem uma visão mais histórica e menos tradicional e popular da questão, apresentando-nos variada documentação sobre o assunto:
A Câmara de Alcobaça, em ata datada de 9 de outubro de 1882, diz-nos que:
Ponto 4 - “pela nova divisão territorial efectuada em 1836 (extinção de alguns concelhos) toda a freguesia da Benedicta ficou sendo parte integrante do nosso concelho de Alcobaça …”.
Ponto 5 – “Que a posse alegada pela Junta de Santa Catharina de usufruir os pastos e roçar matto na Charneca da Benedicta, fronteiras aos Cazaes da Marinha e Couta e descripta na carta topographica, não tem fundamento”. (Como é evidente, respeitámos a ortografia da época).
Seria fastidioso relatar toda esta questão. Apenas mais alguns dados. Este contencioso arrasta-se até 1910 (o que não deixa de ser estranho).
É morto um homem chamado Joaquim Luiz, solteiro, residente no Casal do Gregório.
O Juiz Dr. José D’Almeida Pereira Zagallo vai à Benedita recolher testemunhos sobre o crime, acompanhado pelo Dr. Mário Calixto (delegado do procurador régio) e do médico Dr. António de Sousa Neves.
Voltando à questão do Vale do Homem, diremos que a 23 de fevereiro de 1910, chegaram à Benedita soldados do Regimento de Cavalaria de Aveiro para reporem a ordem. A força militar era comandada pelo alferes Nogueira e os respetivos soldados conduziam 22 cavalos. Mais tarde, chega outra força: 16 soldados, 2 cabos, 1 corneteiro e um sargento, comandados pelo alferes Oliveira.
Toda esta desordem travou-se entre as populações da Benedita e de Santa Catarina.
Notas finais – a falta de apoio da Câmara de Alcobaça às populações das freguesias de Turquel e Benedita motivaram esta reação.
Diremos, também, que as “fronteiras” entre a Benedita e Rio Maior suscitaram, ao longo dos tempos, algumas dúvidas. Tudo foi resolvido, de modo pacífico e colaborante, na década de cinquenta do século passado, entre as autarquias, riomaiorense e alcobacense.